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Com a palavra a ciência

O cérebro de quem medita

Com o aumento da idade da população, a incidência de declínio cognitivo e demência aumentaram  substancialmente. Isso dá uma falsa ideia de que, a degeneração cerebral seria uma decorrência  natural do envelhecimento do ser humano. Mas, isso não é verdade. Uma vida mais longa não  precisa vir atrelada a uma má qualidade, resultado de um cérebro decaído. A professora de  neurologia da Faculdade de Medicina UCLA faz uma ponderação importante, ”Embora muitas  pesquisas tenham se concentrado na identificação de fatores que aumentam o risco de doenças  mentais e declínio neurodegenerativo, relativamente menos atenção tem sido dada às abordagens  destinadas a melhorar a saúde cerebral.” Proteger e nutrir o cérebro é essencial para a qualidade de  nossas vidas, tanto na juventude quanto na velhice. Hoje vamos abordar essa questão sobre o  ângulo da meditação, e quero que você veja como a ciência tem provado que, técnicas simples de  meditação fazem toda diferença na longevidade e na qualidade funcional do cérebro. Vem comigo,  vamos mergulhar no tema! 

 

É POSSÍVEL UM CÉREBRO VITAL PARA SEMPRE?  

Sim, é possível. A meditação pode desacelerar fortemente as perdas de substância cinzenta do  cérebro relacionadas à idade e ao estresse, dizem os pesquisadores da UCLA. O cérebro começa a  perder volume a partir dos 20 anos, e isso gera dois tipos de consequências graves. A primeira delas  é uma queda da habilidade funcional cerebral, o que compromete a atenção, percepção, memória de  trabalho, auto-regulação emocional, cognição e a capacidade de tomada de decisão. As habilidades  funcionais do cérebro humano são construídas a partir da infância até o início da vida adulta, depois  disso o cérebro necessita de manutenção e cuidados, caso contrário ele entra em declínio rápido,  principalmente em razão do estilo de vida. A outra consequência séria é que, a perda de volume  cerebral aumenta o risco para doenças mentais e as doenças neurodegenerativas. Como eu tenho insistido, existe uma relação direta entre saúde do cérebro e adoecimento mental. Essa é uma via de  mão dupla, claro, mas, é importante frisar que, o adoecimento mental é adquirido muito mais através  da degeneração cerebral, que por sua vez é fruto de uma série de fatores interligados ao estilo de  vida (estresse, má alimentação, sedentarismo, sono de má qualidade, falta de contemplação,  ausência de rede de apoio) do que fatores apenas genéticos. Isso nos dá uma incrível janela de ação  para protegermos o cérebro de seu decaimento após os 20 anos, dando a ele a chance de enfrentar  muito bem os desafios inerentes à vida adulta.  

 

O QUE AS PESQUISAS MOSTRAM  

O ano de 2012 foi especial para a pesquisa da meditação enquanto um recurso terapêutico na  neurociência e psicologia. Naquele ano, a revista Frontiers publicou os resultados de um estudo divisor de águas sobre os efeitos da meditação na anatomia e função cerebral. Seus achados  mostram uma alteração altamente significativa na girificação cortical de meditadores. Vou explicar.  Imagine uma folha de papel amassada em forma de uma esfera, mais ou menos assim acontece com  o cérebro que, nos mamíferos, dobra sobre si mesmo formando depressões, saliências e giros.  Pensava-se antes que esses giros, a girificação, seria o recurso que a natureza encontrara para que  pudéssemos guardar mais neurônios e ter assim, um cérebro que se destacasse dos outros  mamíferos. Uma lógica simples: quanto mais giros, mais extensão, mais neurônios, mais inteligência  e mais funções cerebrais sofisticadas. Ledo engano tornado público pela espetacular cientista  Suzana Herculano-Houzel, que se notabilizou por provar que não era bem isso. Ela descobriu com  precisão o número de neurônios em cérebros humanos, 86 bilhões, e que essa quantidade de  células não é tão superior a outros mamíferos como primatas, elefantes e golfinhos como eu expliquei  no artigo que você pode reler aqui. Nossa genialidade não está na quantidade de neurônios, mas na  qualidade de nossas conexões neurais. Voltando ao estudo de 2012, descobriu-se que a meditação  aumentava justamente a girificação cortical, e por que isso é importante? Bem, isso explica a grande  plasticidade neuronal dos nossos cérebros. E se você está tentando lembrar-se o que significa  neuroplasticidade, vamos lá: é a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo de toda  uma vida, e através de melhores conexões, que possibilita que ele se restaure e se regenere. Por  toda uma vida, não se esqueça! Este estudo encontrou ainda uma interferência na ínsula, que é uma  estrutra chave envolvida na regulação das distrações e no vaguear mental (mente errante, que vai  para o passado, para o futuro, cria estórias, e por aí vai). Portanto, o aumento da girificação insular  em meditadores pode resultar numa melhor e maior integração dos processos autonômicos, afetivos  e cognitivos, uma vez que os meditadores controlam melhor a introspecção, a consciência e as  emoções.  

Outro ano importante foi 2013. Neste ano, vimos acontecer um grande abalo sísmico nos terrenos da  neurociência. Um outro estudo feito na UCLA investigava o uso de uma técnica simples de uma  meditação do kundalini yoga chamada de kirtan kriya, e este estudo fez história! Essa meditação  assentada, de curta duração, apenas 12 minutos, e realizada apenas por 8 semanas, provou ser um  recurso espetacular para aumentar a cognição, a saúde mental e a atividade da telomerase. Eu sei  que você já quer saber sobre a telomerase, então vamos lá.  

A principal função da telomerase, que é uma enzima, é repor os telômeros nas extremidades  cromossômicas reajustando, deste modo, e continuamente, o relógio celular. Os cromossomos são  estruturas que abrigam o material genético dentro da célula, e que possuem nas suas extremidades, à semelhança das pontas dos cadarços de sapatos, uma proteção extra que impede de  esgarçamento ou danos deste precioso material genético. Esses são os telômeros, ah gente, a  biologia é tudo e o corpo uma maravilha!  

Por isso que, quando as células apresentam maior concentração de telomerase, como ficou provado  com a meditação Kirtan Kriya, elas apresentam uma maior vida útil e um envelhecimento muito mais  lento. Em outras palavras, a telomerase é um biomarcador para a juventude de nossas células.  Agora, voltando aos resultados da Kirtan Kriya, eles são simplesmente surpreendentes porque  demonstram que a prática regular dessa meditação por apenas 8 semanas aumentou em muito a  telomerase. Na verdade, a telomerase aumentou em 43%, o maior aumento já registrado. Outros  estudos sobre essa prática mostraram que ela também melhora o fluxo sanguíneo para o cérebro,  reverte a perda de memória, alivia a depressão e silencia os genes inflamatórios enquanto ativa os  saudáveis, como explica Chris Walling, na época diretor executivo do Centro de Longevidade  Cerebral da UCLA onde esta prática foi investigada. Esta meditação faz parte, desde então, dos  protocolos para tratamento e prevenção do Alzheimer e outras demências. 

O ano de 2015 começa muito animador para a meditação. O Centro de Mapeamento do Cérebro da  UCLA viria publicar os resultados de uma pesquisa sobre como a meditação poderia atuar na perda  de massa cinzenta, que deixou os próprios pesquisadores impressionados, como disse um deles, o Dr Florian Kurth, que, por sinal também compôs a equipe que estudou a meditação em 2012:  “Esperávamos efeitos pequenos e distintos localizados em algumas das regiões que haviam sido  anteriormente associadas à meditação. Em vez disso, o que realmente observamos foi um efeito  generalizado da meditação que abrangeu regiões de todo o cérebro.” 

As investigações da meditação sobre o cérebro continuaram aceleradas em vários centros de  pesquisas pelo mundo, e um novo objetivo foi proposto, mais um teste para a meditação. Agora, os  pesquisadores queriam ver se pessoas que já apresentavam algum grau de comprometimento  cognitivo e demência poderiam se beneficiar da meditação. Os resultados trouxeram novas luzes e  muita esperança. Em 2021, um estudo publicado pela Frontiers usando a técnica de meditação  sentada e silenciosa sobre a substância cinzenta e espessura cortical em pessoas com  comprometimento leve da cognição e memória, mostra que a meditação não apenas age em áreas  do cérebro relacionadas ao controle executivo e à memória, mas que, sendo praticada regularmente,  pode retardar o processo neurodegenerativo em outras áreas cruciais do cérebro. Este estudo  mostrou ainda que, a meditação causa mudanças saudáveis na espessura cortical e nos volumes de  substância cinzenta, predominantemente sobre o córtex pré-frontal, com uma diminuição mais  posterior sugerindo o aumento do controle “de cima para baixo” nos meditadores. Esse termo  médico nada mais quer dizer do que uma maior auto-regulação à partir da consciência e menos  resultante dos impulsos emocionais de defesa. Outro achado bastante importante desse estudo foi  verificar que, quando a meditação se torna parte do estilo de vida, ela é capaz de alterar a atividade  cerebral oferecendo ainda maior controle sobre a impulsividade e uma maior atenção sustentada. Um  dos autores desse estudo, Neil W. Bailey, ressalta que a meditação também pode ser usada como  técnica de estimulação cerebral no tratamento inclusive da depressão, que não respondeu à  medicação típica, e ainda, por ser uma técnica simples, ela pode ser ensinada on-line alcançando  mais pessoas. 

Você sabe que o foco e a atenção são recursos funcionais altamente especializados do cérebro  humano. Quando eles estão comprometidos, ficamos submetidos a um evento cérebro-mental  chamado de “mind wondering”, em português, mente errante, o que causa a perda grave da  capacidade da atenção. Quando isso ocorre, já estamos diante de uma degeneração neurológica, na maioria das vezes decorrente do estresse, da fadiga ou de transtornos mentais como TDAH,  ansiedade e depressão.  

Investigando justamente a relação entre esses dois fenômenos e a meditação, a revista Elsevier  publicou em 2021 mais um estudo que trouxe resultados pra lá de animadores. Nele se concluiu que,  a experiência subjetiva de meditação e divagação mental diferem entre meditadores experientes e  novatos, refletidas nas propriedades oscilatórias do EEG (eletroencefalografia) dos participantes desta  investigação. Eles descobriram que, os meditadores têm maior nível de foco e uma considerável  redução da divagação mental durante a prática de meditação. As modulações espectrais do EEG  associadas à meditação e à divagação mental também diferiram significativamente entre meditadores  e o grupo controle.  

Como você pode notar, há muitas robustas evidências que sustentam a tese da Medicina do Estilo  de Vida, e de outras áreas médicas e de saúde, que tem na meditação um recurso simples, eficaz e  útil para ser abraçado como hábito vida, que concretamente melhora a saúde cerebral, corporal e  mental, e ajuda o cérebro a se manter vital e ativo por uma vida longa e inteira.  

Eu gostaria que você soubesse que no meu canal do Instagram vou conduzir  algumas meditações que menciono neste artigo, para que você tenha a experiência e venha se juntar  à mim. Fique de olho! 

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