Meditar é parte essencial de uma aula de kundalini yoga que, ao lado dos exercícios físicos, ajuda a criar uma ambientação no corpo e na mente com vistas a autoregulação neuroendócrina e metabólica. Dentre todas as meditações que temos no kundalini yoga, algumas longas e desafiadoras, há aquelas que são curtas e ideais para serem feitas por qualquer pessoa sem a presença do instrutor. Essas meditações são excelentes para o trabalho de autoregulação do corpo e da mente. Minha intenção é trazer para vocês uma série deles este mês, e hoje vamos começar por uma meditação que utiliza a técnica do assovio. Ninguém imagina o que está por trás de um simples assovio! Ele pode modular o impulso que nos faz reagir de modo defensivo e impensado através de da estimulação de campos cerebrais superiores no córtex que propiciam uma resposta interativa, que surge da avaliação do perigo, do tamanho do desafio e das consequências futuras. Vamos entender isso melhor.
A técnica de assobiar na meditação é muito simples e familiar. Os lábios e os ouvidos desempenham um papel nessa técnica. Às vezes, o assovio é feito apenas na inalação, às vezes apenas na exalação e às vezes tanto na inalação quanto na exalação. Para fazê-lo na inalação, como requer essa meditação, franza os lábios, concentre-se no ponto entre os olhos e inspire pela boca assoviando de modo agudo e exale.
Todo e qualquer movimento exagerado dos lábios estimula o nervo vago. A ciência médica diz que o nervo vago é importante, para o yoga ele é essencial.
O nervo vago desempenha um papel crucial no corpo humano, sendo fundamental para várias funções fisiológicas e para o equilíbrio do sistema nervoso autônomo que controla funções involuntárias do nosso corpo, como a frequência cardíaca, a digestão, a respiração e a resposta ao estresse, e o relaxamento após um evento difícil. Além disso, o nervo vago possui conexões com várias áreas do cérebro que estão envolvidas no controle do humor, cognição e regulação emocional.
Com origem no tronco cerebral, o vago é o principal do sistema nervo do nervoso parassimpático. Ele é o mais longo e complexo dos nervos cranianos e seu nome “vago” deriva do termo latino que significa “vagar”, refletindo sua extensa distribuição por muitas áreas do corpo, incluindo o cérebro, órgãos no pescoço, tórax e abdômen.
Uma outra importante função do nervo vago é sua ação sobre o chamado “eixo intestino-cérebro”, um sistema de comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro. Nessa comunicação, o vago ao lado de células do intestino, mediados pela microbiota, influencia a saúde intestinal, a inflamação e o metabolismo, como visto na temporada anterior dedicada à inteligência metabólica humana. Você pode rever clicando aqui.
No yoga, o assovio está associado ao fato dele alterar a circulação na região bucal, e estimular a inervação da língua que, indiretamente, promove a ativação das glândulas tireoide e paratireoide, além de aumentar a capacidade pulmonar. Assoviar é uma combinação de respiração e música, por isso o assovio no kundalini yoga ganha o nome de swara. Essa palavra deriva-se do termo em sânscrito Svar, que quer dizer som. Dos vários tipos de som, aquele que nos acalma é chamado de swara. O assovio é uma forma de nós mesmos criarmos um swara que nos acalma e relaxa.
A postura:
Você pode se assentar numa cadeira, no sofá, ou mesmo no chão. A coluna deve ser mantida ereta e o queixo ligeiramente puxado para dentro. Projete o peito delicadamente para fora. Tudo muito delicado, sem exageros. Olhos fechados.
Dobre os cotovelos e levante os antebraços de modo que os cotovelos não descansem nas costelas. Dos cotovelos às pontas dos dedos, os antebraços estão em um ângulo de 45 graus para a frente, exatamente como na figura ao lado. Toque as pontas do polegar e do dedo indicador, numa forma conhecida por gyan mudra.
A respiração:
Tempo:
11 minutos no máximo. Tempo mínimo de 3 minutos.
Para finalizar:
Inspire profundamente, segure a respiração por 10 segundos, enquanto estica a coluna e tensiona cada fibra do seu corpo. Repita esta sequência mais duas vezes. Relaxe e permaneça de olhos fechados e contemple sua experiência sem interferir. Esse é o momento para meditamos. Ele é primoroso, e nele permitimos com humildade a decantação da experiência meditativa.