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Com a palavra a ciência

Como ajudar seu cérebro a te ajudar

Manter o cérebro vital e ativo, com muita saúde, é um recurso imprescindível para melhorar a qualidade da saúde mental. Se os neurônios continuam a ser produzidos por toda a vida, pelo menos  até os 97anos, como mostra um estudo da Universidade de Madri em 2019, vamos aproveitar. A  neurogênese diminui fortemente com a idade, o que é natural. Mas, muitas doenças neurológicas  

decorrentes de um cérebro desprotegido derrubam sua capacidade de se restaurar. Manter a saúde  do cérebro é um requisito importante para nossa saúde mental e para a cognição. Se, de um lado o  sofrimento mental, ainda que incipiente, interfere na nossa capacidade de pensar e raciocinar, ou  ainda em como nós interagimos socialmente e regulamos nossas emoções, como diz o relatório de  2018 do Conselho Global AARP’s sobre saúde cerebral, o contrário também é verdadeiro. Um  cérebro saudável oferece melhores condições para lidarmos com o sofrimento mental e superá-lo. Se  a depressão e a ansiedade são condições que aumentam enormemente o estresse e destroem  algumas funções cerebrais, um cérebro adoecido precocemente em razão do estilo de vida terá  chances muito menores de manter a regulação emocional e bioquímica, tornando a pessoa muito  mais susceptível ao sofrimento mental. Vamos conversar sobre algumas orientações úteis e urgentes  para você proteger esse super órgão. 

UM CÉREBRO ODARA, JÁ!  

O cérebro é um órgão complexo e suas funções afetam todos os aspectos de nossa vida diária: da  interpretação da experiencia através dos sentimentos ao controle dos movimentos, da regulação dos  processos cognitivos, mentais e emocionais à exteriorização desses sentimentos em nossas relações  sociais. O cérebro, como qualquer outro órgão, é vivo e se renova, mas para isso ele precisa ser  estimulado. Uma qualidade essencial para mantermos o cérebro renovado sempre é a curiosidade, já  que aprender novas habilidades gera novos neurônios. 

Manter o cérebro saudável em qualquer idade é muito importante para a qualidade de nossa vida  psíquica e emocional. “Sabemos que as pessoas que têm depressão correm quase o dobro do risco  de desenvolver demência nos próximos dois anos”, diz Sudha Seshadri, médica e diretora do Glenn  Biggs Institute for Alzheimer’s & Neurodegenerative Diseases nos EUA. Mas, o que vem primeiro, a  demência ou a depressão? Sabemos que um dos primeiros locais do cérebro a ser afetado pela  doença de Alzheimer é o Locus Ceruleus, que também está envolvido com as respostas ao estresse.  Pode muito bem ser que, a perda da saúde cerebral em decorrência da toxicidade do estresse  desencadeie a demência do Alzheimer, ou certamente essa alta carga estressora acelere a expressão  gênica para esse tipo de demência. Um estudo do Journal of the American Medical Association  aponta que, pessoas submetidas a traumas na infância têm um maior risco de desenvolver  comprometimento cognitivo na vida adulta. Outro estudo publicado no The Lancet colocou a  depressão entre os 12 principais fatores de risco para demência, e uma revisão de 2019 do Maturitas  encontrou uma ligação entre ansiedade e demência.  

Uma das coisas mais importantes que as pessoas geralmente não percebem é que as três principais  doenças cerebrais em humanos, o derrame, a demência e a depressão, estão todas inter relacionadas. Todas elas estão ocorrendo no mesmo órgão e, se uma pessoa foi diagnosticada com  uma dessas três doenças, o risco de sofrer as outras duas aumenta. 

Um cérebro saudável pode ser extremamente eficaz na prevenção e reversão desses adoecimentos  mentais e ainda proteger as funções cerebrais. Fato é que, o bem estar psicológico e a saúde  cerebral são indissociáveis. Um afeta diretamente o outro. Em 2021, JAMA Neurology publicou uma  descoberta interessante. Pessoas que tinham alguém para conversar tiveram um desempenho  melhor em exames cognitivos do que aqueles que não tinham, e isso prova que, a resiliência do  cérebro pode ser melhorada pelas conexões sociais, diz a Dra Seshadri. De acordo com um estudo  da The Lancet, adultos mais velhos com bom suporte social mantinham uma alta função cognitiva  (mesmo possuindo placas beta-amilóide no cérebro, um marcador para o Alzheimer) em relação  àqueles com menos suporte social. Não é novidade alguma o fato de que pessoas que tem um sono  reparador e se exercitam o suficiente, se alimentam melhor, gerenciam seu estresse, meditam e estão  socialmente engajadas têm menor probabilidade de desenvolver demências. 

Proteger o cérebro requer refletir sobre muitos hábitos que abraçamos como parte do nosso estilo de  vida. Hábitos que protegem a saúde mental são exatamente os mesmos que podem proteger a  saúde funcional cerebral. Já se sabe que, se um indivíduo tiver um derrame, o risco de ter depressão  pós-derrame e desenvolver demência aumenta muito. Se alguém tiver demência, há um risco maior  de desenvolver depressão e ter um derrame e, ter depressão clínica aumenta o risco de ter derrame  e/ou demência. Ou seja, não dá para ficar olhando e não fazer nada para o seu cérebro. É sempre  bom lembrar ainda que, tudo que você fizer de bom para o cérebro, o coração agradece! 

10 MANEIRAS QUE AJUDAM A PROTEGER O CÉREBRO  

  1. Estimule seu cérebro e medite  

Atividades cerebrais estimulam as conexões neurais e podem gerar novas células auxiliando na neuro  plasticidade. Esportes com raquetes, em especial o tênis de mesa pode reverter quadros  sintomáticos de certas doenças cerebrais como o Parkinson. Aprenda uma nova língua, leia, se  desafie aprendendo novas habilidades como o desenho e a pintura. A meditação, enquanto recurso 

de atenção plena, oferece um recurso inestimável ao fortalecimento da neurogênese e da neuro  plasticidade. Desbrave! 

  1. Melhore sua dieta  

Uma dieta saudável pode ajudar a prevenir doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o  Parkinson, além de melhorar a memória e a cognição em pessoas de todas as idades. Essa dieta é  rica em nutrientes essenciais. Coma alimentos ricos em vitaminas do complexo B, ômega-3,  antioxidantes e flavonoides. Esses nutrientes ajudam a reduzir a inflamação no cérebro, proteger as  células cerebrais contra danos oxidativos e melhorar a comunicação neuronal. Além disso, uma dieta  equilibrada e baseada principalmente em plantas pode ajudar a controlar fatores de risco para  doenças cerebrais, como pressão arterial elevada, diabetes e obesidade. Por exemplo, uma dieta rica  em verduras, vegetais, grãos integrais e com quantidade adequada de proteína e frutas pode ajudar  a reduzir a pressão arterial e o risco de diabetes tipo 2. Por outro lado, uma dieta rica em gorduras  saturadas, açúcar e alimentos processados pode aumentar o risco de doenças cerebrais. Estudos  mostram que dieta rica em gorduras saturadas pode aumentar o acúmulo de placas beta-amilóide no  cérebro, um fator de risco para o Alzheimer. 

Você sabia que existe uma relação direta entre o cérebro e os intestinos? 

Ela é conhecida como o eixo cérebro-intestinal. Essa conexão ocorre por meio de uma comunicação  bidirecional entre o sistema nervoso central, que inclui o cérebro, e o sistema nervoso entérico, que é  uma rede complexa de neurônios presente no sistema digestivo. Os intestinos são conhecidos como  o “segundo cérebro”! 

Um elemento essencial dessa relação entre o cérebro e os intestinos é a microbiota intestinal,  composta por bilhões de bactérias que vivem no trato gastrointestinal. Essas bactérias  desempenham um papel fundamental na saúde do cérebro e podem influenciar o humor, a cognição  e o comportamento. A comunicação entre a microbiota intestinal e o cérebro ocorre por meio da  produção de substâncias químicas, como neurotransmissores e metabólitos. Isso impacta a saúde  geral e do cérebro. Por exemplo, distúrbios do humor, como ansiedade e depressão, podem estar  relacionados a alterações na comunicação entre o cérebro e os intestinos. Além disso, condições  como a síndrome do intestino irritável e doenças inflamatórias intestinais podem afetar tanto o  funcionamento gastrointestinal quanto o bem-estar emocional. Para cuidar bem dessa flora intestinal  você deve, além de se alimentar bem, consumir probióticos que ajudam a manter as boas bactérias  no intestino. Mas, é essencial evitar o consumo excessivo de alimentos processados e açúcar, que  podem prejudicar a saúde intestinal. 

  1. Se exercite regularmente  

Nós não fomos projetados para sermos sedentários, pessoal! E não adianta querer ser um atleta de  fim de semana, hein? Quando se trata de exercícios, a regularidade é a chave para a saúde. Isso  porque o exercício aumenta o número de vasos sanguíneos no cérebro, levando mais oxigênio e  nutrientes para nossos neurônios. Além disso, o exercício estimula o crescimento de novas células  nervosas e melhora as conexões entre elas. Ou seja, o nosso cérebro fica mais eficiente, plástico e  adaptável, o que é ótimo para garantir saúde cerebral na idade avançada. E não para por aí, não! O 

exercício também ajuda a controlar a pressão arterial, o colesterol e o açúcar no sangue, além de  reduzir o estresse. Ou seja, é bom para coração e para cérebro. 

  1. Melhore sua pressão arterial  

Pressão alta na meia-idade aumenta o risco de declínio cognitivo na velhice. Mude seus hábitos e  seu estilo de vida para manter sua pressão regulada. Isso se faz através da alimentação, da atividade  física regular, do controle da ingestão de álcool e do manejo do estresse. 

  1. Melhore sua curva glicêmica  

Vocês sabiam que o diabetes é um fator de risco importante para demência? Vocês podem ajudar a  prevenir o diabetes reduzindo a ingestão de açúcar e doces, aumentando a ingestão de carboidratos  complexos, que são digeridos mais lentamente pelo organismo e fornecem energia de forma mais  gradual e constante. Isso evita os picos de glicose, péssimos para a saúde e que aceleram o  envelhecimento precoce geral. Alguns exemplos de carboidratos complexos incluem grãos integrais,  quinoa, além de legumes, verduras e frutas. Esses alimentos também são ricos em fibras, vitaminas e  minerais, o que é ótimo para a saúde geral do corpo. 

  1. Melhore seu colesterol  

Níveis elevados de colesterol LDL, o colesterol ruim, estão associados a um aumento do risco de  demência. Dieta, exercícios, controle de peso e evitar o tabaco ajudarão bastante a melhorar seus  níveis de colesterol. Bons óleos, como o azeite e o óleo de coco atuam melhorando os níveis do  colesterol bom, o HDL. 

  1. Fumar já era!  

Nada mais a declarar! Quer se envenenar, busque o cigarro. E se misturado ao álcool então, seu  risco para o câncer é quase que certeiro. Beber também é péssimo não só porque aumenta o risco  para o câncer, mas particularmente para a demência. Pessoas que fazem uma bebedeira apenas  uma vez por mês têm 2,5 mais chances de degenerarem seus cérebros precocemente. 

  1. Proteja sua mente  

A falta de sono e o sofrimento mental são fatores diretamente relacionados à perda de função  cognitiva. Medite, contemple, ou faça algo que te relaxe. Descanse de suas telas pelo menos 1 hora  antes de dormir. Eu sei que é difícil, mas faz a diferença. Levante-se e receba a luz solar na face,  ainda que por poucos instantes. Mantenha regularidade nos horários de se deitar e levantar. Saia da  caixinha, explore novas formas de se aconchegar dormir. E não se esqueça que, para tudo isso dito  acima, cultivar boas relações ou ter pelo menos uma pessoa com quem você possa ser você, se  divertir, se distrair, é essencial para sua saúde cerebral e mental! 

Na próxima semana vou receber para um papo bem técnico, a nutricionista Silvana Portugal. Vamos  falar exclusivamente sobre o tipo de alimentos e suplementos para a saúde e longevidade do  cérebro. Até lá!

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