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Com a palavra a ciência

A mente humana e nossas escolhas – parte 3

Consciência é o estado de estar ciente de si e do ambiente em torno de si, dos  pensamentos, sentimentos e sensações. É a capacidade de saber integrar o que se  organizou, através de como se processou a informação percebida, na experiencia subjetiva  consigo e com o outro. Muito embora a consciência seja considerada um aspecto  fundamental da experiência humana, sua natureza está longe de ser totalmente  compreendida pelos cientistas e filósofos. Descobrir como nosso cérebro e nossa mente  fazem das nossas experiências algo mais consciente ou não é um dos tópicos científicos  mais interessantes e desafiadores da atualidade. O esclarecimento dos mecanismos  envolvidos é crucial para uma compreensão mais profunda da natureza humana e dos  problemas que enfrentamos como indivíduos e sociedade. 

A CONSCIÊNCIA  

Eu pego a estrada um pouco apressada para um compromisso. Me conheço bem, prefiro  chegar antes do que atrasada. No caminho um motorista dirige super lentamente, justo na  minha frente. Como se isso não fosse o suficiente para me irritar, ele dirige numa alta pista  olhando para o celular. Eu fico indignada, pisco o farol, dou seta pedindo licença e nada. De  repente minha mão pesa sobre a buzina, e aí vai, solto aquele som estridente e continuo  atras dele. Ele tira os olhos do celular, olha para o retrovisor e muda de pista me dando  passagem. Quando cruzo por ele, dei uma olhada ainda indignada como que querendo dar  

uma lição de moral no cara. Ele me olha do tipo, que se dane. Dai, eu reparo no seu rosto  cansado, ele todo descabelado, uma cara de quem trabalha demais e está com problemas.  Meu carro já cruzou o dele e eu o avisto distante agora pelo meu retrovisor. Ele ficou pra trás  com seus sentimentos e eu sigo à frente com o arrependimento de ter sido rude. Eu queria  pedir desculpas, mas já era tarde e ao mesmo tempo ridículo demais. Ele não estaria nem ai  para o meu dilema moral. A certeza de que fiz algo que me desagradou é grande, eu tenho  consciência de todos os elementos dessa situação depois que eu a experimentei. Essa  história poderia ter sido minha… e é! 

O que é a consciência afinal? Ela teria sido suficiente para me conter antes que eu me  irritasse com o motorista? Ou, eu precisei compreender a situação um pouco além da sua  aparência para ter consciência e controle de mim?  

A consciência é um dos temas mais intrigantes no debate científico, e para quem pensa que  ela se encerra na psicologia se engana. A discussão sobre o que é a consciência atravessa o  coração de várias áreas, da neurociência à física teórica, da filosofia às práticas mente corpo, da química ao esporte e semiótica.  

O tema para mim é fascinante justamente porque eu sinto que ele jamais permite ser  totalmente compreendido. Me devora a vontade de compreender os correlatos neurais, em  outras palavras, como o cérebro recebe as informações que lhe ofereço através da minha  percepção, as processa e como ele se eletriza e se anima em abrir certas trilhas por onde eu  caminho para fazer certas escolhas e não outras, ou como ele me faz mais consciente de  uma determinada experiência do que outras, e vale dizer ainda que, eu tenho também sede  de entender o papel da minha mente e seus padrões gravados no meu subconsciente no  processo da consciência e das escolhas que faço. 

A psicologia se esforça em compreender o tema da consciência mas parece que sempre  algo lhe escapa. Muitos dos primeiros psicólogos eram introspeccionistas e valorizavam a  consciência. Mais tarde chegaram os behavioristas e colocaram no seu lugar o  comportamento. Os Cognitivistas, na tentativa de oferecer respostas que o behaviorismo  não deu, escolhem estudar a cognição através da investigação sobre o processamento da  informação em vez da experiência subjetiva imaginando manter desse modo a consciência  ao alcance, mas raramente a tocam de fato. Parece que a consciência se recusa a  enquadramentos, ela é fluida, processual, lenta, vigorosa e tinhosa também. 

FORMAS DE CONSCIÊNCIA NA VIDA COMO ELA É  

Se não sabemos muito bem sobre a consciência, podemos usar o seu oposto para entendê la, seria ao avesso mas tá valendo. Aquilo que está diametralmente oposto à consciência é a  inconsciência. Esta é uma condição da nossa mente e cérebro em não estamos a par, não  estamos ciente de nós e do meio. Agimos de modo automático. Acho tranquilo dizer que, 

qualquer grau que nos afaste da inconsciência nos leva, inevitavelmente, à consciência. O  grau de estar ciente está intimamente relacionado à condição de estar consciente.  

Sabemos que o estado de percepção, de estar a par de, e da consciência podem ser  totalmente alterados através de estímulos como atividade física, estresse, drogas,  medicamentos, meditação e outras práticas mente-corpo. Uma pessoa que ao dormir sente  frio, e instintivamente puxa a coberta para si, está num baixo nível de percepção mas ainda  sim seu cérebro responde aos sentimentos do corpo. Por outro lado, uma pessoa que está a  par de si e do meio pode controlar melhor os pensamentos, impulsos e focar no agora. O  grau mais elevado de presença e consciência chamado de fluxo é o foco pleno no agora.  Nas palavras de Csíkszentmihályi que cunhou o conceito de fluxo, “O ego cai. O tempo voa.  Cada ação, movimento e pensamento segue inevitavelmente o anterior, como tocar jazz.  Todo o seu ser está envolvido, e você está usando suas habilidades ao máximo” e tudo que  você faz dá resultado e está certo. Este não é um estado experimentado apenas nas artes,  mas no esporte, no trabalho, na vida.  

Como vimos, a vigília não é uma pre-condição para a consciência. Pessoas que sonham  também se envolvem emocionalmente com o objeto sonhado, sentem e tomam decisões  baseadas no grau de percepção e da consciência experimentada na realidade do sonho. 

Mas, deixa eu voltar ao exemplo da minha irritação com o motorista lento e vendo celular ao  dirigir. A mim me parece que, para que eu estivesse ciente da situação de modo a poder  controlar os meus impulsos e agir de modo coerente com meus valores, eu precisaria de  conhecer mais da situação, ter outros elementos que formam um panorama cognitivo, de  modo a desafiar meu modo de ver as coisas (crenças) e me fazer atenta ao outro, tanto  quanto deveria estar a mim mesma.  

Temo que esse complexo sistema de coisas não se construa nem rápido nem facilmente. Ele  requer tempo, treino e um bom conhecimento de como a sua mente funciona. Acredito que  é na memória das experiencias que vivemos, na análise do nosso comportamento ao  experimentá-las que melhor vamos conhecer os mecanismos cerebrais que influenciam  nossas resposta aos estímulos que ora agridem ou apaziguam nossa visão de mundo e  modelos mentais.  

A tomada de decisão é difícil e necessária na vida. O processo de fazer escolhas é resultado  de como nossa mente opera em face aos desafios internos e externos, ao grau de atenção e  percepção e por fim, ao grau de nossa consciência. Fazer escolhas será o último tema sobre  a mente. Até lá! 

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