Porque homens e mulheres são completamente diferentes em termos dos ciclos dos hormônios sexuais, basicamente em razão da mulher produzir, utilizar e ciclar com os três hormônios sexuais, progesterona, estrogênio e testosterona enquanto o homem não, o seus jejuns são também diferentes. Entretanto, existe uma hierarquia hormonal organizada em função da oxitocina, que a regula e influencia nosso bem estar, nossos vínculos emocionais, nosso prazer e nossa saúde. E adivinha? A ocitocina, importantíssima tanto para homens quanto para mulheres, pode ser muito bem regulada pelo jejum! Hoje vamos falar desta maravilhosa rede comandada pela ocitocina para nossa saúde e do jejum para homens.
Ocitocina é um hormônio produzido pelo hipotálamo, lá no cérebro, e é liberado na corrente sanguínea a partir da hipófise. Imagine seu corpo com suas mais de 30 trilhões de células, pense nesse coletivo! Essas células têm incontáveis receptores em suas membranas para receber a ocitocina, que ao entrar por suas paredes vai fazer uma festa no organismo, oferecendo as melhores sensações de conforto, prazer e de afeto. Sim, a ocitocina ganhou o codinome de hormônio do amor, mas ela faz muito mais do que se apresentar nas relações íntimas de carícias e sexuais, nos abraços aconchegantes ou na ejaculação.
Além desses momentos tipicamente eróticos e sexuais, há outros vários nos quais sem a ocitocina a gente ficaria na pior. Veja você, ela é quem auxilia a mulher nas contrações uterinas durante o trabalho de parto; ela também facilita a amamentação estimulando a liberação do leite materno; ela fortalece vínculos afetivos entre pessoas e causas sociais; ela potencializa a sensação de bem-estar e reduz o estresse; ela aumenta a empatia e, ainda, ajuda na regulação do sono e do apetite. Muita coisa boa, né?!
Para entender melhor a hierarquia hormonal que se cria a partir da ocitocina, vou começar pelo antigo e sempre atual estresse.
Reação básica do estresse
Existe uma dupla super parceira que entra em ação para regular todos os nossos hormônios quando estamos sob tensão de qualquer natureza, o hipotálamo e a hipófise. O trabalho desse casal é mais ou menos assim: se você sente que está numa situação de ameaça, sua amígdala cerebral aperta o botão vermelho pânico que alerta o hipotálamo para a situação. Na agilidade, o hipotálamo envia mensagens às supra-renais pedindo para aumentar a produção de epinefrina e noradrenalina, hormônios que vão fazer suas pupilas dilatarem pra você enxergar, seus brônquios dilatarem pra entrar mais oxigênio, seu coração acelerar, tudo isso para que o cérebro tome a decisão certa de lutar ou dar no pé. Se o perigo persistir, o hipotálamo vai buscar ajuda da hipófise. Ele pede que a soberana (sim ela é o poder total) envie mensagens às supra-renais para que elas liberem mais ajuda. A hipófise também envia sinal ao pâncreas para que se prepare, pois a glicose está prestes a ser liberada pelos tecidos e o pâncreas precisa aumentar a insulina. Tudo acontece num flash, e suas supra-renais já começam a secretar o famoso cortisol. O cortisol é seu último recurso para fortalecer o sistema de defesa geral, e para isso, o seu sistema de crescimento será desligado. Você entrou no modo defesa. Se o perigo passou, beleza, em até 30 minutos você sairá do estado de alerta e mobilização e voltará ao normal. Mas, se seus níveis de cortisol permanecem elevados, o coração, o cérebro, e todo seu sistema de defesa permanece no pânico e isso trás muitos problemas.
Os problemas do cortisol em excesso são inúmeros e complicados. O organismo começa a armazenar triglicérides, uma gordura que altera a resposta dos receptores de insulina, impedindo que esse hormônio se encaixe neles como deveria. Isso é a famosa resistência insulínica, que pode levar ao diabetes tipo II. Os leucócitos, células de defesa, também são gravemente afetados deixando o organismo susceptível a doenças virais e bacterianas. Não para por ai, há também uma enorme queda da cognição e memória, adoecimento da tireóide, problemas de pele, disfunção erétil e menor função reprodutiva, rigidez muscular, problemas gastrointestinais e ossos enfraquecidos.
Vamos ver isso mais de perto porque é necessário e, também, vale a pena já que situações que nos estressam acontecem comigo e com você todos os dias!!! A cascata de reações hormonais que vamos ver agora afeta seus hormônios sexuais, sim de mulheres e de homens também.
Altas quantidades de insulina na circulação alertam o hipotálamo que solicita à hipófise que ela interrompa a produção de estrogênio e progesterona, porque a crise ainda persiste. Do ponto de vista antropológico vem a questão: por que procriar quando uma tempestade está se formando? Mas, a boa notícia vem de novo da ocitocina, que se localiza no topo dessa rede hormonal. Quando a ocitocina surge majestosa no firmamento neuroendócrino, o cortisol é retirando de cena na hora! No momento em que o cérebro sente a presença da ocitocina, ele imediatamente desliga o cortisol, e isso tem boas consequências. Há um maior controle da glicose, uma grande redução da insulina circulante, e um maior equilíbrio dos hormônios sexuais.
O estresse trás consigo altas quantidades de cortisol o que eleva, proporcionalmente, a quantidade de açúcar e de insulina no sangue. O cortisol em excesso também interfere na produção de hormônios sexuais, já que estamos no modo de defesa e não no modo de crescimento. Imagine uma pessoa em constante tensão, propensa a diabetes, com uma alimentação ruim, rica em carboidratos ruins e péssimas gorduras. Ela sofre com azia e má digestão, bebe diariamente para relaxar, e ainda padece do funcionamento caótico de seus hormônios sexuais. Não precisa dizer mais nada, essa pessoa está morrendo uma morte lenta e dolorosa.
Não só o jejum pode ajudar a regular os efeitos negativos do cortisol, como também pode melhorar a produção de neurotransmissores que acalmam e combatem o estresse. Mas, a rainha de todos os hormônios e processos auto-regulatórios precisa ser invocada, a ocitocina! Ela é o hormônio chave que pode quebrar esse ciclo malévolo, simplesmente porque onde ela estiver o cortisol desaparece!
Como eu já dizia, se você produz ocitocina, seus níveis de cortisol caem imediatamente equilibrando os níveis de insulina e a produção de hormônios sexuais. Você sabe como obter mais desse hormônio, da ocitocina? Simples, um bom e gostoso abraço, uma conversa com suas amigas com aquelas boas risadas, acariciar seu animal de estimação, demonstrar amor sincero, estar em estado de gratidão, aconchegar-se, fazer sexo, se masturbar, meditar, fazer yoga, massagem e ter conversas profundas e significativas com as pessoas.
A ocitocina tem o poder de regular todos os outros hormônios em seu corpo. A sua presença já é suficiente para que o hipotálamo se convença de que você está em segurança e bem, e que a tempestade finalmente passou. Assim, o cérebro não precisa mais da produção de cortisol.
O estrogênio ama quando você faz jejum, especialmente no início do seu ciclo menstrual, quando ele está começando a ser produzido. Ele ama o jejum! Por que? O estrogênio sempre aumenta quando a insulina está baixa (você não está no modo defesa, e sim no modo crescimento). Quando você obtém energia apenas da quebra da glicose, através do alimento, a glicose aumenta carregado consigo a insulina, e isso faz o estrogênio diminuir. Esses altos e baixos de glicose, insulina e estrogênio aumentam o risco de resistência à insulina tanto para os homens quanto para as mulheres que menstruam (causa infertilidade também), ou para as que estão na menopausa. O jejum diminui a insulina porque faz uso de outro sistema de obtenção de energia, o da queima da gordura e não da glicose, e assim a produção de estrogênio é facilitada.
Vários estudos científicos mostram que o jejum intermitente pode aumentar muito a produção de testosterona em homens. O jejum é um recurso inestimável para os homens que podem jejuar sem se preocuparem com os ciclos hormonais. Lamentavelmente, não temos estudos dessa natureza feitos em mulheres, não vou entrar no mérito ou demérito disso, só lamento que ainda seja assim em pleno século 21. Segundo a experiência clínica da Dra Mindy Pelz com jejum para mulheres, fica claro que, o jejum intermitente de 15 horas seria o melhor a ser empregado no momento em que a produção de testosterona se inicia, o que ocorre durante a ovulação.
O período em que seu corpo produz progesterona é na semana anterior à menstruação, e nesse momento você deveria evitar o jejum. Há duas questões ligadas à progesterona que tornam o jejum uma má opção neste momento: a primeira se relaciona com a suscetibilidade da progesterona ao cortisol e à glicose. Quando o cortisol aumenta, a progesterona diminui. Lembra, entramos na fase de defesa e a fase de crescimento é desligada, junto com ela a da reprodução. Por isso, qualquer atividade que eleve o cortisol prejudicará seus níveis de progesterona. Em segundo lugar, a progesterona adora a glicose e qualquer dieta que diminua a glicose, como a dieta cetogênica, trará um impacto negativo sobre os níveis de progesterona. Essas duas influências sobre a progesterona tornam os jejuns de qualquer duração uma péssima opção na semana anterior ao seu ciclo. Homens estão, obviamente, liberados dessas restrições, né?!
Qualquer modalidade de jejum já abordada aqui é excelente para homens. Entretanto, é importante levar em conta que o corpo se acostuma a platôs de jejuns, prejudicando os seus benefícios. Em outra palavras, altere a janela de jejum continuamente. Não existe um plano ideal, mas já seria ótimo que você homem faça o jejum intercalando diferentes janelas num intervalo de dias, e ao seu gosto. Só não permaneça com o mesmo intervalo de jejum continuamente.
Os benefícios do jejum para os homens são muitos, desde que se tenha em mente a qualidade da alimentação, os tipos de alimentos que quebram o jejum e os alimentos que promovem a autoregulação desejada. Eu citaria 4 principais, como (1) redução de peso; (2) desintoxica o cérebro, repara neurônios, aumenta níveis do hormônio chamado fator neurotrófico derivado do cérebro, BDNF, que auxilia na prevenção doenças neurodegenerativas; (3) melhora a saúde cardíaca, diminuindo a pressão arterial, os níveis de colesterol ruim; (4) diminui a inflamação por conta da exposição a toxinas e químicos no ambiente e na alimentação, e por isso previne doenças auto imunes e doenças do trato digestivo como úlceras gástricas.
No geral, comece com uma pequena janela de jejum e vai criando espaços para ampliar essa janela aos poucos. Consistência é chave, e vale a pena!
Até a próxima semana com mais novidades por aqui!