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Com a palavra a ciência

A ciência e a arte do jejum | parte 3

Falamos no último episódio na semana passada, sobre as vantagens de uma faxina em nosso corpo com o objetivo de restaurar sua inteligência metabólica, eliminar células doentes e toxinas que são estocadas em nossa gordura e no fígado, com o objetivo de melhorar o metabolismo, regular os níveis de cortisol, glicose e insulina, aumentar a eficiência das mitocôndrias e prevenir cancer através da autofagia. Agora chegou o momento de darmos sequência ao tema, abordando os efeitos do jejum intermitente sobre os mecanismos de regulação dos hormônios de crescimento, sobre o religamento do sistema de dopamina, os reparos no sistema imunológico, a regulação da microbiota e os benefícios para o eixo intestino-cérebro, e sobre a proteção contra o câncer. Prepare-se então para muita coisa nova e boa!

IMPORTÂNCIA DO AUMENTO DOS HORMÔNIOS DE CRESCIMENTO

Os hormônios de crescimento são a fonte de toda vitalidade e juventude celular. Sua produção é alta na puberdade, e depois vai lentamente diminuindo. Mas, aumentar sua produção é muito importante porque seus efeitos sobre nós são essenciais.

Suas funções básicas podem ser resumidas na queima gordura, especialmente na região abdominal, no aumento do crescimento muscular, e na proteção do cérebro. O hormônio de crescimento tem uma ação anabólica, estimulando o crescimento tecidual, e metabólica alterando o fluxo, a oxidação e o metabolismo de praticamente todos os nutrientes na circulação. Seja direta ou indiretamente, o hormônio de crescimento age promovendo aumentos de síntese protéica, elevação da mobilização de lipídeos (gordura) para produção de energia e redução da utilização da glicose.

Este hormônio pode ser aumentado naturalmente por meio de sono adequado, treinamento intervalado de alta intensidade, manutenção de peso saudável, redução da ingestão de açúcar e otimização da ingestão de proteínas. Dependendo do tempo de jejum, a diminuição da glicose por ele promovida pode estimular o corpo a produzir até 5 vezes mais o hormônio de crescimento!

IMPORTÂNCIA DA REDEFINIÇÃO DAS VIAS DE DOPAMINA

A dopamina, um neurotransmissor, é a estrela do sistema nervoso central. Ela circula por vias chamadas de dopaminérgicas e desempenha um papel crucial na regulação de vários processos cerebrais. A dopamina está na linha de frente das sensações de prazer, recompensa e motivação, além disso ela regula o ânimo, a coordenação motora e as funções cerebrais sofisticadas como a tomada de decisão.

Muitas coisas estimulam a dopamina, dentre elas eu citaria a atividade física, meditação, boa música, e boa arte em geral. Mas, uma das coisas que mais estimula a dopamina é comer, pois é. Muitas vezes apenas pensar sobre a comida já faz a dopamina circular. O problema surge quando se come o dia inteiro, o que altera o bom ritmo da dopamina e sua distribuição, por conta do continuo aumento da linha base de dopamina, que por sua vez cria uma pressão por aumenta-la continuamente, buscando a sensação de bem estar. O que você faz então? come ainda mais.

O problema disso, além do óbvio, é muito semelhante ao congestionamento produzido pelo excesso de insulina em nosso corpo, que faz suas células ficarem resistentes dando início a pré-diabetes ou mesmo a diabetes tipo 2. Com a dopamina acontece o mesmo. Com o aumento excessivo e progressivo de sua produção, você também pode ficar resistente. E isso causa uma desregulação nas vias de dopamina, porque tanto a falta ou o excesso dela desregula as funções neurais. Neste caso, é comum níveis aumentados de impulsão, abuso de substâncias, mal humor e déficit de atenção ou hiperatividade.

O jejum de diferentes formatos de duração restaura a via de dopamina, impedindo seu desequilíbrio, as vezes até criando novos receptores de dopamina, o que significa uma prevenção importante da perda de receptores também decorrente do avanço da idade.

IMPORTÂNCIA DA MELHORA DA MICROBIOTA

Já falamos muito sobre a importância da microbiota para a saúde do corpo, e da ligação direta que os intestinos mantém com o cérebro (ver mais neste artigo). Mas, o que o jejum tem a ver com a microbiota? Absolutamente tudo!

Esses microorganismos são adquiridos desde a gestação, e estão presentes nas primeiras fezes do bebê, no cordão umbilical e no líquido amniótico. Como temos uma enorme quantidade de bactérias vivendo em nós, em sua maioria nos nossos intestinos, elas têm funções absolutamente essenciais para nosso corpo. São elas que nos protegem contra bactérias do mal, regulam nossa imunidade, auxiliam na absorção de nutrientes, na produção de hormônios, produção de neurotransmissores, e por aí vai.

Um dos problemas é que nosso estilo de alimentação e a quantidade de antibióticos que ingerimos podem destruir essa flora intestinal, o que resultará em distúrbios metabólicos, principalmente induzindo maior armazenamento de gordura. Por isso, inúmeros estudos relacionam a obesidade com uma diminuição da diversidade das bactérias da flora intestinal.
Você sabia que, quanto maior a diversidade da flora intestinal, menos apetite teremos? Pois então, o jejum restaura a saúde dessa microbiota de quatro maneiras. Primeiro, melhora a diversidade dos microorganismos; segundo, melhora a produção de bactérias que convertem gordura branca (péssima, difícil de ser eliminada) em gordura marrom (que nos aquece porque tem mais mitocôndrias dentro de suas células, e é de fácil eliminação) que é justamente a gordura de qualidade superior que regenera células tronco e restaura a mucosa intestinal; e por fim, o jejum afasta as bactérias da flora para longe da mucosa intestinal, o que ajuda a regulação da glicose.

Em 2019, o famoso MIT – Massachusetts Institute of Technology, publicou um estudo que sugere que o jejum é um estímulo à renovação de células-tronco intestinais, o que pode proteger o trato gastrointestinal de doenças relacionadas à idade. Você sabe o que é uma célula tronco? São aquelas células que podem ser usadas em qualquer tecido ou parte do nosso corpo que sofreu algum dano, seja por estresse, por uma dieta pobre, medicamentos, e repará-lo. Isso é possível com o jejum de 24 horas, por exemplo.

IMPORTÂNCIA DA REDUÇÃO DA RECORRÊNCIA DE CÂNCER

Claro que o jejum pode evitar o surgimento de câncer em primeira mão, em decorrência da capacidade tanto autofágica que ele oferece, quanto por sua capacidade de apoptose, que é a eliminação de células contaminadas com toxinas de origem não orgânica, como plásticos e vários venenos, ou metais pesados, como chumbo e mercúrio (ver artigo aqui).

Mas, o interessante é que em 2016 foi publicado um estudo que investigou o jejum noturno prolongado e prognóstico do câncer de mama, por 4 anos com mais de 2 mil mulheres entre 27 e 70 anos que passaram por tratamento convencional de câncer de mama. As conclusões citadas no artigo dizem que “prolongar a duração do intervalo de jejum noturno pode ser uma estratégia simples e não farmacológica para reduzir o risco de recorrência do câncer de mama. As melhorias na glicorregulação e no sono podem ser mecanismos que ligam o jejum noturno ao bom prognóstico do câncer de mama”. Isso é muito promissor!

Eu imagino que você esteja se perguntando que tipo de jejum se adequa ao seu estilo de vida. E, claro, existem vários tipos de jejum com diferentes durações. Sobre isso falaremos na próxima semana! Não perca!!

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