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Com a palavra a ciência

A ciência e a arte do jejum | parte 6  

Porque homens e mulheres são completamente diferentes em termos dos ciclos dos hormônios  sexuais, basicamente em razão da mulher produzir, utilizar e ciclar com os três hormônios sexuais,  progesterona, estrogênio e testosterona enquanto o homem não, o seus jejuns são também  diferentes. Entretanto, existe uma hierarquia hormonal organizada em função da oxitocina, que a  regula e influencia nosso bem estar, nossos vínculos emocionais, nosso prazer e nossa saúde. E  adivinha? A ocitocina, importantíssima tanto para homens quanto para mulheres, pode ser muito  bem regulada pelo jejum! Hoje vamos falar desta maravilhosa rede comandada pela ocitocina para  nossa saúde e do jejum para homens.  

A OCITOCINA  

Ocitocina é um hormônio produzido pelo hipotálamo, lá no cérebro, e é liberado na corrente  sanguínea a partir da hipófise. Imagine seu corpo com suas mais de 30 trilhões de células, pense  nesse coletivo! Essas células têm incontáveis receptores em suas membranas para receber a  ocitocina, que ao entrar por suas paredes vai fazer uma festa no organismo, oferecendo as melhores  sensações de conforto, prazer e de afeto. Sim, a ocitocina ganhou o codinome de hormônio do  amor, mas ela faz muito mais do que se apresentar nas relações íntimas de carícias e sexuais, nos  abraços aconchegantes ou na ejaculação.  

Além desses momentos tipicamente eróticos e sexuais, há outros vários nos quais sem a ocitocina a  gente ficaria na pior. Veja você, ela é quem auxilia a mulher nas contrações uterinas durante o  trabalho de parto; ela também facilita a amamentação estimulando a liberação do leite materno; ela  fortalece vínculos afetivos entre pessoas e causas sociais; ela potencializa a sensação de bem-estar  e reduz o estresse; ela aumenta a empatia e, ainda, ajuda na regulação do sono e do apetite. Muita  coisa boa, né?! 

A REDE HORMONAL COMANDADA PELA OCITOCINA  

Para entender melhor a hierarquia hormonal que se cria a partir da ocitocina, vou começar pelo  antigo e sempre atual estresse.  

Reação básica do estresse  

Existe uma dupla super parceira que entra em ação para regular todos os nossos hormônios quando  estamos sob tensão de qualquer natureza, o hipotálamo e a hipófise. O trabalho desse casal é mais  ou menos assim: se você sente que está numa situação de ameaça, sua amígdala cerebral aperta o  botão vermelho pânico que alerta o hipotálamo para a situação. Na agilidade, o hipotálamo envia  mensagens às supra-renais pedindo para aumentar a produção de epinefrina e noradrenalina,  hormônios que vão fazer suas pupilas dilatarem pra você enxergar, seus brônquios dilatarem pra  entrar mais oxigênio, seu coração acelerar, tudo isso para que o cérebro tome a decisão certa de  lutar ou dar no pé. Se o perigo persistir, o hipotálamo vai buscar ajuda da hipófise. Ele pede que a  soberana (sim ela é o poder total) envie mensagens às supra-renais para que elas liberem mais ajuda.  A hipófise também envia sinal ao pâncreas para que se prepare, pois a glicose está prestes a ser  liberada pelos tecidos e o pâncreas precisa aumentar a insulina. Tudo acontece num flash, e suas  supra-renais já começam a secretar o famoso cortisol. O cortisol é seu último recurso para fortalecer  o sistema de defesa geral, e para isso, o seu sistema de crescimento será desligado. Você entrou no  modo defesa. Se o perigo passou, beleza, em até 30 minutos você sairá do estado de alerta e  mobilização e voltará ao normal. Mas, se seus níveis de cortisol permanecem elevados, o coração, o  cérebro, e todo seu sistema de defesa permanece no pânico e isso trás muitos problemas.  

Os problemas do cortisol em excesso são inúmeros e complicados. O organismo começa a  armazenar triglicérides, uma gordura que altera a resposta dos receptores de insulina, impedindo que  esse hormônio se encaixe neles como deveria. Isso é a famosa resistência insulínica, que pode levar  ao diabetes tipo II. Os leucócitos, células de defesa, também são gravemente afetados deixando o  organismo susceptível a doenças virais e bacterianas. Não para por ai, há também uma enorme  queda da cognição e memória, adoecimento da tireóide, problemas de pele, disfunção erétil e menor  função reprodutiva, rigidez muscular, problemas gastrointestinais e ossos enfraquecidos.  

Vamos ver isso mais de perto porque é necessário e, também, vale a pena já que situações que nos  estressam acontecem comigo e com você todos os dias!!! A cascata de reações hormonais que  vamos ver agora afeta seus hormônios sexuais, sim de mulheres e de homens também.  

INSULINA 

Altas quantidades de insulina na circulação alertam o hipotálamo que solicita à hipófise que ela  interrompa a produção de estrogênio e progesterona, porque a crise ainda persiste. Do ponto de  vista antropológico vem a questão: por que procriar quando uma tempestade está se formando?  Mas, a boa notícia vem de novo da ocitocina, que se localiza no topo dessa rede hormonal. Quando  a ocitocina surge majestosa no firmamento neuroendócrino, o cortisol é retirando de cena na hora!  No momento em que o cérebro sente a presença da ocitocina, ele imediatamente desliga o cortisol, e  isso tem boas consequências. Há um maior controle da glicose, uma grande redução da insulina  circulante, e um maior equilíbrio dos hormônios sexuais. 

CORTISOL  

O estresse trás consigo altas quantidades de cortisol o que eleva, proporcionalmente, a quantidade  de açúcar e de insulina no sangue. O cortisol em excesso também interfere na produção de  hormônios sexuais, já que estamos no modo de defesa e não no modo de crescimento. Imagine uma  pessoa em constante tensão, propensa a diabetes, com uma alimentação ruim, rica em carboidratos  ruins e péssimas gorduras. Ela sofre com azia e má digestão, bebe diariamente para relaxar, e ainda  padece do funcionamento caótico de seus hormônios sexuais. Não precisa dizer mais nada, essa  pessoa está morrendo uma morte lenta e dolorosa.  

Não só o jejum pode ajudar a regular os efeitos negativos do cortisol, como também pode melhorar a  produção de neurotransmissores que acalmam e combatem o estresse. Mas, a rainha de todos os  hormônios e processos auto-regulatórios precisa ser invocada, a ocitocina! Ela é o hormônio chave  que pode quebrar esse ciclo malévolo, simplesmente porque onde ela estiver o cortisol desaparece!  

OCITOCINA 

Como eu já dizia, se você produz ocitocina, seus níveis de cortisol caem imediatamente equilibrando  os níveis de insulina e a produção de hormônios sexuais. Você sabe como obter mais desse  hormônio, da ocitocina? Simples, um bom e gostoso abraço, uma conversa com suas amigas com  aquelas boas risadas, acariciar seu animal de estimação, demonstrar amor sincero, estar em estado  de gratidão, aconchegar-se, fazer sexo, se masturbar, meditar, fazer yoga, massagem e ter  conversas profundas e significativas com as pessoas.  

A ocitocina tem o poder de regular todos os outros hormônios em seu corpo. A sua presença já é  suficiente para que o hipotálamo se convença de que você está em segurança e bem, e que a  tempestade finalmente passou. Assim, o cérebro não precisa mais da produção de cortisol.  

OS HORMÔNIOS SEXUAIS E O JEJUM  

Estrogênio  

O estrogênio ama quando você faz jejum, especialmente no início do seu ciclo menstrual, quando ele  está começando a ser produzido. Ele ama o jejum! Por que? O estrogênio sempre aumenta quando a  insulina está baixa (você não está no modo defesa, e sim no modo crescimento). Quando você  obtém energia apenas da quebra da glicose, através do alimento, a glicose aumenta carregado  consigo a insulina, e isso faz o estrogênio diminuir. Esses altos e baixos de glicose, insulina e  estrogênio aumentam o risco de resistência à insulina tanto para os homens quanto para as mulheres  que menstruam (causa infertilidade também), ou para as que estão na menopausa. O jejum diminui a  insulina porque faz uso de outro sistema de obtenção de energia, o da queima da gordura e não da  glicose, e assim a produção de estrogênio é facilitada.  

Testosterona  

Vários estudos científicos mostram que o jejum intermitente pode aumentar muito a produção de  testosterona em homens. O jejum é um recurso inestimável para os homens que podem jejuar sem  se preocuparem com os ciclos hormonais. Lamentavelmente, não temos estudos dessa natureza  feitos em mulheres, não vou entrar no mérito ou demérito disso, só lamento que ainda seja assim em  pleno século 21. Segundo a experiência clínica da Dra Mindy Pelz com jejum para mulheres, fica claro  que, o jejum intermitente de 15 horas seria o melhor a ser empregado no momento em que a  produção de testosterona se inicia, o que ocorre durante a ovulação. 

Progesterona  

O período em que seu corpo produz progesterona é na semana anterior à menstruação, e nesse  momento você deveria evitar o jejum. Há duas questões ligadas à progesterona que tornam o jejum  uma má opção neste momento: a primeira se relaciona com a suscetibilidade da progesterona ao  cortisol e à glicose. Quando o cortisol aumenta, a progesterona diminui. Lembra, entramos na fase  de defesa e a fase de crescimento é desligada, junto com ela a da reprodução. Por isso, qualquer  atividade que eleve o cortisol prejudicará seus níveis de progesterona. Em segundo lugar, a  progesterona adora a glicose e qualquer dieta que diminua a glicose, como a dieta cetogênica, trará  um impacto negativo sobre os níveis de progesterona. Essas duas influências sobre a progesterona  tornam os jejuns de qualquer duração uma péssima opção na semana anterior ao seu ciclo. Homens  estão, obviamente, liberados dessas restrições, né?!  

BENEFÍCIOS DO JEJUM PARA HOMENS 

Qualquer modalidade de jejum já abordada aqui é excelente para homens. Entretanto, é importante  levar em conta que o corpo se acostuma a platôs de jejuns, prejudicando os seus benefícios. Em  outra palavras, altere a janela de jejum continuamente. Não existe um plano ideal, mas já seria ótimo  que você homem faça o jejum intercalando diferentes janelas num intervalo de dias, e ao seu gosto.  Só não permaneça com o mesmo intervalo de jejum continuamente.  

Os benefícios do jejum para os homens são muitos, desde que se tenha em mente a qualidade da  alimentação, os tipos de alimentos que quebram o jejum e os alimentos que promovem a  autoregulação desejada. Eu citaria 4 principais, como (1) redução de peso; (2) desintoxica o cérebro,  repara neurônios, aumenta níveis do hormônio chamado fator neurotrófico derivado do cérebro,  BDNF, que auxilia na prevenção doenças neurodegenerativas; (3) melhora a saúde cardíaca,  diminuindo a pressão arterial, os níveis de colesterol ruim; (4) diminui a inflamação por conta da  exposição a toxinas e químicos no ambiente e na alimentação, e por isso previne doenças auto imunes e doenças do trato digestivo como úlceras gástricas.  

No geral, comece com uma pequena janela de jejum e vai criando espaços para ampliar essa janela  aos poucos. Consistência é chave, e vale a pena!  

Até a próxima semana com mais novidades por aqui! 

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