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Com a palavra a ciência

A ciência e a arte do jejum parte 1

Eu sou uma praticante regular do jejum intermitente desde o início da pandemia, e quanto mais eu  estudo e pratico, mais me encanto com essa técnica. Não se trata de parar de comer, muito pelo  contrário. Tampouco trata-se de uma estratégia de emagrecimento. Claro, se você estiver com  sobrepeso, suas gorduras vão ser queimadas, e você perderá peso. O jejum é uma forma de alterar  nossa fonte usual de energia que é obtida, via de regra, a partir da glicose, para energia obtida pela  queima de gordura. O jejum reseta a inteligência inata do corpo, que foi sendo perdida,  principalmente, pela péssima alimentação, pela montanha russa de várias dietas milagrosas de  emagrecimento, pelo estresse que causa picos contínuos de cortisol e insulina e, infelizmente, pela  alta exposição a toxinas na alimentação. O jejum é, portanto, uma forma de restaurar as defesas  naturais, a boa conversa entre intestino e cérebro, regular hormônios, e combater doenças  degenerativas e neuropatologias. Vamos entrar fundo no tema em partes e espero que você possa  se inspirar!  

A INTELIGÊNCIA BIOLÓGICA DO CORPO E O QUE A PERTUBA  

O corpo humano evoluiu com uma maestria sem igual. Ele possui 37 trilhões de células, que ao lado  da mente formam um sistema complexo no sentido científico do termo. Sistemas Complexos são  aqueles nos quais suas partes interagem de forma dinâmica e assim produzem novas propriedades,  completamente singulares, não rastreáveis a nenhuma suposta fonte presente anteriormente no  sistema. O sistema complexo corpo-mente é adaptativo e alcançou tamanha sofisticação que pode  funcionar quase na perfeição. Uma imensa comunidade de células diferentes e com funções  próprias, que ao lado de mais de 4 mil especies de bactérias e alguns fungos, trabalham em  cooperação. Cada célula dessas produz energia queimando gordura e metabolizando glicose e  produzindo antioxidantes em série para nossa preservação. 

A Dra Mindy Pelz não poderia resumir melhor: “Essas células sabem quando devem fornecer energia  para que você possa realizar uma tarefa e quando devem desacelerar para que você possa  descansar. Quando você come, elas consomem os nutrientes que você forneceu a elas e usam  esses nutrientes para realizar as tarefas necessárias para te manter funcionando da melhor forma  possível. Se não houver alimento disponível, elas mudam para uma fonte alternativa de combustível  para garantir que você tenha força e clareza mental para continuar funcionando. Quando os  receptores na parte externa dessas células percebem os hormônios que circulam no sangue, elas  abrem suas portas e deixam esses hormônios entrarem. Elas se adaptam com eficiência a quaisquer  influências físicas, químicas ou emocionais que você lhes apresente”.  

Um detalhe fundamental a ser lembrado é que essas células precisam de nutrientes de verdade,  boas gorduras, aminoácidos, fibras, vitaminas e minerais para manter sua saúde. Embora esse  sistema seja super autónomo e eficiente em realizar suas tarefas, tudo indica que algo deu errado, e  muito errado. No Brasil, por exemplo, temos 6,7 milhões de pessoas obesas e 15 milhões de  pessoas passando fome. Um disparate! Sobre nossos irmãos e irmãs passando fome, não há o que  dizer, apenas nos indignar e trabalhar para que esse problema desumano seja contornado  urgentemente, pois não faz sentido algum pessoas não terem do que se alimentar enquanto tantos  desperdiçam. Já para o grupo de pessoas em sobrepeso, vale lembrar que a obesidade não anda  só, ela vem acompanhada de pressão alta, neuropatias, diabetes tipo 2, hipotireoidismo e doenças  autoimunes. Para essas pessoas nós podemos fazer algo já, e eu acredito que investir na informação  de qualidade e falar sobre o jejum é um importante começo.  

Neste artigo pretendo fazer alguns alertas quanto a situações que criam obstáculos à nossa saúde,  independente se você está de olho em emagrecimento, melhora geral da saúde cardiovascular e cerebral, prevenção de neuropatologias e demências, ou mesmo se seu interesse é envelhecer com vigor e saúde mental. No próximo artigo, que sairá daqui a uma semana, vamos  entrar em detalhes no poder de cura do jejum, e se for preciso continuaremos a falar mais um pouco  sobre a arte do jejum em suas várias modalidades para resetar o metabolismo e aumentar a proteção  epigenética.  

TRÊS ALERTAS PARA UMA BOA SAÚDE 

Nos meus estudos sobre esse tema, me deparei com a Dra Mindy Pelz, e em seu último livro  publicado recentemente ela adverte seus leitores e pacientes para 5 erros que as pessoas cometem,  na maioria das vezes influenciadas pela mídia e pela grande indústria. Vamos a eles:  

  1. Dietas de restrição calórica 

Existe um mito ainda em voga que diz que, se você comer menos e se exercitar mais você perderá  peso e terá saúde perfeita. Parece lógico, mas não funciona. As dietas de restrição calórica tem se  mostrado uma das maneiras mais frustrantes e difíceis de perda de peso, sem contar no desgaste  

metabólico e o estresse emocional e fisiológico que tais dietas impõem ao nosso sistema. Você deve  estar se perguntando o porquê disso. Vamos lá: toda vez que você come menos e se exercita mais,  seu ponto de ajuste metabólico se altera. Esse ponto nada mais é do que um intervalo em que seu  corpo mantem seu peso dentro limite ideal de calorias. A velha escola médica diz que esse ponto é  estabelecido geneticamente, mas estudos recentes contradizem essa velha crença. Na verdade, o  que esses estudos revelam é que esse ponto de ajuste metabólico pode ser treinado. 

Sem dúvida alguma a ampla disponibilidade de alimentos altamente calóricos resultou em uma alta  incidência de obesidade, porém as tentativas de diminuir o peso corporal que se concentraram  apenas na redução de ingestão de calorias se deram mal. Essa não é a melhor abordagem. Embora  o consumo de mais calorias do que o gasto calórico esteja inicialmente na base do problema, não se  verifica que a redução da ingestão calórica seja a melhor solução como aponta esse estudo de 2017.  

Vejamos, mesmo um ano após a dieta, os mecanismos hormonais que estimulam o apetite são  aumentados. Isso acontece porque, quando você come menos e se exercita mais, você reduz o  limiar do ponto metabólico lá pra baixo, e cada vez que você abaixa esse ponto de ajuste metabólico,  o corpo reage inevitavelmente contra essa restrição. Com o passar do tempo, o corpo reage à  restrição calórica aumentando os sinas de fome lá no seu hipotálamo, dentro do cérebro, e como  não há calorias disponíveis, o cérebro inicia uma desaceleração do metabolismo, e você começa a  ganhar peso novamente.  

As dietas de restrição calórica oferecem alívio temporário, e seus resultados desaparecem logo, e  isso já está documentado desde os anos 1960, no chamado Experimento de Fome de Minnesota, no  qual 36 homens foram colocados por 13 meses numa dieta restrita de calorias, e o que se observou  foram dramáticas mudanças no estado mental, como preocupação, ansiedade e isolamento social.  Esses sintomas perduraram mesmo após o término do experimento, quando esses homens voltaram  à dieta normal, e pior ainda, rapidamente houve o retorno ao peso que eles tinham previamente ao  estudo, e ainda ocorreu um aumento de 10% extra. Por isso tudo esse tipo de dieta é tão difícil e  causa tanta frustração e adoecimento.  

  1. Alimentos de baixa qualidade 

A indústria de alimentos, forçada claro pelas pressões governamentais, declarou guerra às gorduras.  Foi estabelecida uma relação direta entre consumo de gordura e doenças cardiovasculares e, por  isso, uma orientação geral foi dada para que nos afastássemos de gorduras saturadas e colesterol.  A industria de alimentos introduziu como alternativa os alimentos “fat free” (livre de gorduras).  Acontece que ao eliminar a gordura, os alimentos perderam a graxa e a graça! Então, a industria  colocou no lugar da gordura o açúcar e produtos químicos para melhorar o sabor.  

Isso não só causou um aumento estrondoso na obesidade quanto nos expos a toxicidade desses  alimentos processados. Por que isso acontece com alimentos ultra-processados de baixo teor de  gordura? Porque eles aumentam a resistência a insulina!  

A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que transporta a glicose para o interior das  células. A resistência insulínica acontece quando nossas células perdem a capacidade de utilizar esse  hormônio para transportar o açúcar do alimento para si, ou seja, elas não mais conseguem utilizar a  glicose como combustível. Isso não causa apenas diminuição de energia, mas sobretudo um  armazenamento de glicose não utilizada em gordura. Isso causa uma destruição da inteligência  metabólica do nosso corpo, que resulta em obesidade, aumento da pressão arterial, aumento do  trigliceride, diabetes, baixa do bom colesterol o HDL, e aumento do colesterol ruim o LDL.  

Quer entender melhor como a insulina deveria funcionar? Vamos lá. A insulina é o hormônio que  armazena o açúcar. O pâncreas libera esse hormônio após a ingestão de uma refeição para  transportar o açúcar dessa refeição para as células. Quanto mais açúcar na sua dieta (não esqueça  que carboidrato se transforma em açúcar) maior é a liberação de insulina. Quando a insulina  constantemente inunda nossas células, seus receptores não operam como deveriam, pois há um 

engarrafamento total, e neste caso nossas células se tornam resistentes à insulina, e aí tanto o  excesso de insulina quanto de açúcar serão estocados como gordura. Por isso, dietas que não  regularem o mecanismo da resposta à insulina sempre nos falharão.  

  1. Picos de Cortisol e Ingredientes Tóxicos 

Eu aposto que você não sabia que o cortisol é o inimigo numero um da insulina! Ninguém pode viver  um estresse e ter saúde. O cortisol é o hormônio do estresse, por várias razões, e ele existe porque  cumpre seu papel muito bem em nos colocar num estado de alerta, aquele mecanismo luta-fuga.  Entretanto, quando ele está constantemente sendo excretado pelas supra-renais, a insulina estará  constantemente alta também.  

No estresse nós entramos, estimulados por mecanismos regulatórios cerebrais, no modo de defesa.  É como se tivéssemos uma crise e o cérebro desliga a digestão e a queima de gordura, e  imediatamente aumenta a glicose circulante que se faz disponível para enfrentar a situação. De novo,  quando sua glicose aumenta, aumenta também a insulina, e esse fluxo constante de insulina vai criar  problemas para as células.  

Por isso, qualquer dieta rigorosa como a de restrição calórica, porque é muito estressante, vai  acionar esses picos de cortisol, que impedem no final das contas o emagrecimento. Claro, os picos  de cortisol acontecem também em qualquer situação de estresse crônico, inclusive quando você  exagera na atividade física, ou mesmo em jejuns descontrolados para manter a boa forma. Lembre  disso, estresse contínuo é impeditivo de boa saúde. Tudo isso é muito mais dramático para a mulher  do que para o homem em razão da ultra sensibilidade e oscilação hormonal no corpo feminino. No  caso da mulher, o estresse alem de aumentar os níveis de cortisol e insulina, faz diminuir os  hormônios sexuais. Por isso uma mulher nunca relaxa fazendo sexo, e o homem sim!  

Por fim, as toxinas que consumimos nos alimentos aumentam a gordura, além claro, de nos expor a  doenças como câncer e neuropatias. Todo lixo que entra no corpo do ser humano será guardado e  isolado numa célula de gordura com o objetivo de nos proteger. Quanto mais lixo tóxico, mais  gordura para armazenamento será necessário.  

A lista desses ingredientes tóxicos é extensa, mas cinco são os piores:  

(1) plásticos BPA (Bisfenol A). É um composto sintético encontrado em muitos produtos, como  mamadeiras, recipientes plásticos para alimentos e latas de bebidas. Alguns estudos sugerem  que o BPA está associado ao desenvolvimento de obesidade, diabetes, infertilidade e algumas  formas de câncer, principalmente em mulheres. Um levantamento da agência de vigilância  

epidemiológica dos Estados Unidos indica que 92% da população americana apresenta níveis de  BPA na urina, no Brasil não temos estatísticas. No Brasil, a Anvisa proíbe a importação e a  fabricação de mamadeiras com BPA desde 2012. Mas, para as demais aplicações, o uso do  composto é liberado.  

(2) Ftalatos. São produtos químicos usados para deixar plásticos mais macios e flexíveis. Estão  presentes em caixas de alimentos, brinquedos, produtos de beleza, cortinas de chuveiros e  tintas. Eles poluem alimentos e a água, e interferem com o sistema glandular endócrino alterando  o equilíbrio hormonal do corpo. Os homens são bem mais sensíveis a eles, que fazem os níveis  de testosterona declinarem. Por afetar receptores hormonais (PPARs) envolvidos no metabolismo,  causam também ganho de peso e a resistência a insulina. 

(3) Atrazina. Este químico é um herbicida mais utilizado em plantações. A atrazin altera a função  hormonal e pode causar inclusive defeitos congênitos em humanos. Outro grande mal deste  veneno está no fato dele danificar as mitocôndrias. Em ratos ele reduziu o ponto de ajuste  metabólico, e por isso, como consequência, aumentou a gordura abdominal.  

(4) Organoestânicos. Produtos químicos usados na indústria, o mais conhecido é o tributilestanho  (TBT). Este veneno é usdo como fungicida e aplicados em cascos de barcos e navios para evitar  crescimento de organismos marinhos. Também é usado para preservar madeira, e em alguns  sistemas de agua industrial. Muitos lagos e águas costeiras estão contaminadas com o TBT, o  que vem contaminando organismos marinhos. Este químico também altera função hormonal.  

(5) Ácido perfluorooctanóico (PFOA). Este químico é usado em panelas antiaderentes, como  teflon. Ele causa alteração da tireoide e outras doenças como as renais crônicas  

O que podemos fazer para evitar esses venenos? Um bom começo é restringir o consumo de  bebidas e alimentos armazenados em recipientes plásticos. Usar garrafa de aço inoxidável para  armazenar água de beber em vez de consumir água de garrafa de plástico que são feitas sem  controle, lembrando que as garrafas de plástico conhecidas como PET não utilizam BPA por  determinação da ANVISA. Não alimentar bebês com mamadeiras plásticas. Não usar panelas  antiaderentes sem controle de qualidade, preferir as de aço inox ou de ferro fundido. Usar  ingredientes cosméticos orgânicos e naturais. Não usar plástico no microondas. Não usar produtos  com perfumes e evitar comprar tapetes ou móveis resistentes a manchas ou retardadores de chama.  Por fim, e não menos importante, preferir alimentos frescos e livres de químicos, como os orgânicos.  Eles são ligeiramente mais caros que os convencionais, muito embora hoje já existam várias formas  práticas de plantarmos nossos alimentos, ou boa parte deles, em casa ou em apartamentos, o que  reduz enormemente o gasto com alimentação.  

Todavia, existe uma maneira imediata de fazermos uma boa faxina em nosso corpo e resetar a  inteligência metabólica, abaixar os níveis de cortisol, glicose e insulina, aumentar a eficiência das  mitocôndrias e autorregular nossos hormônios. Sabe como? Através do jejum intermitente. Existem  vários modelos de jejum e todos trazem benefícios. Na proxima semana falaremos do poder de cura  do jejum! Não perca, o material é muito explicativo e inspirador! Eu gostaria de poder ajudar você a  criar uma rotina de jejum, vem comigo!

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