O sofrimento mental está aumentando, ou sempre existiu mas a gente não falava sobre isso? O sofrimento mental é herdado ou adquirido em decorrência do estilo de vida e trabalho? Como saber se o que estou sentindo é sofrimento mental? Essas perguntas são super importantes e eu quero conversar com você sobre isso. O sofrimento mental, também conhecido como angústia ou dor emocional, abrange uma série de dificuldades emocionais e cognitivas que podem afetar seu bem estar e sua vida. Ele engloba diferentes condições de saúde mental que vão dos transtornos de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ao transtorno bipolar, esquizofrenia e outros. O sofrimento mental pode afetar seus pensamentos, emoções, comportamentos e sua saúde geral, e se não tratado pode te fazer um mal irreparável. Eu considero muito importante quebrar o tabu e falar sobre isso e reconhecer que o sofrimento mental é real e debilitante pois assim as pessoas podem buscar o suporte profissional adequado, compreender e encontrar alívio. Para entender um pouco melhor, que tal conversarmos sobre os dois mais comuns destes sofrimentos: a ansiedade e a depressão?
Muitas pessoas têm problemas de saúde mental de tempos em tempos, que se apresentam em decorrência do dia a dia. A vida é cheia de desafios, normal. Esses desafios suscitam emoções, sentimentos que podem fazer muito mal, te deixar pra baixo, ou te deixar impaciente, arredia. As
emoções em si não causam sofrimento mental, elas apenas comunicam algo importante sobre as situações que te envolvem e te causam dor e estresse. Ficar sem ter emoção não é nem humano nem saudável, e entender o que elas estão comunicando é muito importante para superar essas fases difíceis, como já abordamos nesse artigo aqui.
Um problema de saúde mental só se torna uma doença mental quando o que você sente (sinais e sintomas) se torna crônico e causa estresse tóxico, afetando a capacidade funcional do seu cérebro e corpo, diminuindo seu ânimo de vida e capacidade criativa. Já falamos em um outro artigo sobre a diferença entre o estresse normal e tóxico e suas consequências para a saúde do corpo e da mente, você pode ler aqui. Enquanto um é positivo porque dá força para superar dificuldades e desafios, o outro gera tanta toxicidade que provoca um decaimento gradativo e rápido do cérebro, do corpo e da mente.
Aproximadamente 12% das crianças e adolescentes brasileiros sofrem de um problema de saúde mental e quase metade desses casos é grave. Este período já é marcado por uma carga grande de ansiedade e quando somado à insegurança alimentar, ao baixo nível socioeconômico e à educação precária, o risco de problemas de saúde mental aumenta rapidamente. A revista The Lancet, publicou em 2021 os dados de ansiedade e depressão no Brasil, e os resultados são chocantes: em 2019 havia 284 mil pessoas com ansiedade, em 2020 348 mil e em 2021 esse número saltou para 436 mil. Somos campeões mundiais de transtorno de ansiedade. Já a depressão saltou de 25,7 mil, para 38,7 mil em 2020, e em 2021 já éramos 49,4 mil pessoas com a doença. Essa combinação associada a todos os outros fatores sociais e econômicos fazem com que no Brasil o suicídio seja a segunda causa de morte em adultos jovens e negros. Estamos matando nosso futuro! Entre jovens, 71% já tiveram burnout, o que indica que essas pessoas estão a um passo do adoecimento mental. Caso você queira saber se está ou não com burnout, clique aqui para fazer o teste.
Saber identificar o que está acontecendo com você é a coisa mais importante que há, justamente porque assim você poderá saber se o que você sente precisa ser tratado ou não. A maioria dos casos que necessitam de tratamentos são sintomas que podem ser bem controlados com uma combinação de medicamentos (alopáticos, homeopáticos ou mesmo fitoterápicos e psicodélicos) e psicoterapia.
Vamos imaginar uma pessoa que se sente triste há vários dias, e esse sentimento vem acompanhado de apatia, vontade de ficar quieta, remoendo o passado, cansaço físico, com alteração de sono e de apetite. Além disso ela tem dificuldades também de se concentrar e seus pensamentos a perseguem. A emoção principal neste caso é a tristeza acompanhada do desânimo, e isso revela um quadro de depressão. Se, por outro lado, a pessoa se sente insegura, preocupada com o futuro, com medo indefinido relacionado a qualquer situação em sua vida, associado às outras alterações que mencionei anteriormente, ela muito provavelmente está com um quadro de transtorno de ansiedade. As emoções predominantes no quadro da ansiedade são o medo e a preocupação, enquanto que para a depressão são a tristeza e o desânimo.
Nós podemos experimentar certas crises e sentir um certo grau de ansiedade ou mesmo um pouco de depressão nos momentos em que enfrentamos determinadas situações intensas, mas que são temporárias em nossa vidas. Depois que a dificuldade passa, tudo tende a se estabilizar e a energia se recupera. Mas, há pessoas que não retornam tão facilmente ao estado de relaxamento e, de fato, precisam de ajuda. Como saber o que determina o sofrimento mental?
A epidemiologia já tem um bom mapeamento sobre a doença/sofrimento mental no Brasil. A herança genética é um fator importante, porém está longe de ser determinante isolado. Uma pessoa que tem genes que a predispõem ao adoecimento mental, dependendo do seu estilo de vida, de sua
capacidade de se conhecer e do meio em que se insere, ela pode definitivamente nunca manifestar a doença. Isso é também verdade para uma pessoa que não tem tais genes, e que a depender do seu meio social, condições de vida e o ambiente que está exposta pode vir a desenvolver um adoecimento mental. Outro dado que o mapa do sofrimento mental no Brasil revela é que os transtornos de ansiedade aparecem ao final da puberdade e no inicio da fase adulta. Já a população mais velha, 55 a 74 anos, sofre mais com a depressão. Mulheres são mais susceptíveis à ansiedade e depressão, já os homens tem esquizofrenia e se suicidam mais.
Há outros dados muito importantes para compreendermos como um pais, a depender de suas políticas públicas e sua economia, leva seus cidadãos ao adoecimento mental. Por exemplo, o acesso a educação é um deles. Quanto maior, melhor é a saude mental. Quanto maior for o desemprego, maiores são os indicies de suicídio, ansiedade e depressão. Quanto mais horas de trabalho, assédio em ambiente de trabalho, violência e discriminação relacionada ao trabalho, maior é o adoecimento mental. Quanto menor for a renda, menor é o acesso à educação, maior é o risco para transtornos mentais e suicídio, vale mencionar que, no Brasil, esse recorte se circunscreve nitidamente na população negra.
Outro grupo importante de determinantes para o sofrimento mental é a política de meritocracia do neoliberalismo, em que o sucesso e o fracasso tendem a ser individualizados; e o outro é o aumento do neopentecostalismo com a teologia da prosperidade, que enaltece o esforço individual, a fidelidade pessoal a deus e à igreja como fontes de garantia do sucesso pessoal. Mas sobre isso também já escrevi, e se você quiser ler acesse aqui o artigo.
Outro importante determinante é a estrutura familiar. Quanto mais disfuncional for o ambiente da família, maior a chance de adoecimento mental em razão do abandono, da insegurança e ausência de laços afetivos.
Se você está sofrendo emocionalmente, com sentimentos que não compreende, se sente insegura/o e sem esperança, busque ajuda. Além de psicólogos ou psiquiatras que devem ser procurados, existe também o CVV – Centro de Valorização da Vida, que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que queiram e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Não se isole!